Nesta proposta temos de desenvolver três composições baseadas em tipografias, associadas ao heterónimos de Fernando Pessoa: Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
Texto de Ricardo Reis:
"Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço."
Palavras caracterizantes: tranquilidade, felicidade, apatia, carpe diem, eferemidade, ausência de paixão e liberdade.
Exemplos de trabalhos de anos anteriores:
Texto de Alberto Caeiro:
"Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de cousa a cousa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!"
Palavras caracterizantes: natureza, sensações, paganismo, desvalorizaçao do tempo, recusa do pensamento; do mistério e do miticismo.
Exemplos de trabalhos de anos anteriores:
Texto Álvaro de Campos:
"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!"
Palavras Caracterizantes: Tédio de viver, elogio à civilização industrial e da técnica, excesso das sensações, masoquismo, cansaço, angústia existencial.
Trabalhos de anos anteriores:
TIPOGRAFIAS FEITAS PELO GRUPO:
Alberto Caeiro:
Para a elaboração deste trabalho foi preciso algum tempo, foi bastante demorado, aliás.
Foi uma proposta com alguma complexidade e, também, alguma imaginação e paciência.
Decidimos começar com o “guardador de rebanhos”, Alberto Caeiro. Como excerto deste heterónimo tínhamos:
"Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de cousa a cousa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!"
Alberto Caeiro é o poeta da visão, da natureza. Rejeita o pensamento, os sentimentos, a linguagem.
A tipografia feita para Alberto Caeiro é muito relacionado com a natureza e com a simplicidade ( poeta da simplicidade).
Para a elaboração desta composição tinhamos por base um poema que enaltece a Natureza. Caeiro fala com desdém da ordem e de quem tenta dar "sentido" às coisas naturais.
Por isso decidimos destacar a natureza, através da folha presente e das cores utilizadas nos versos em circulo. O verde que representa as àrvores, relva, etc, e o azul que representa a água. Dois aspectos fundamentais na natureza.
Escolhemos também um poema “Estou lúcido como se nunca tivesse pensado”. A escolha deste poema recaiu sobre a importancia que Caeiro dá em ver de forma objectiva e natural a realidade (mais uma vez o simplismo tipográfico), com a qual contacta a todo o momento, o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza, a observar o mundo.
O tipo de letra escolhido é simples, sem serifa, fiel à filosofia objectiva do poeta segundo a qual este se regia.
Em suma, o simplismo foi o grande conceito a ser trabalhado.
Ricardo Reis
Passámos para Ricardo Reis, o poeta clássico:
"Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço."
Ao contrário da tipografia realizada para Caeiro, esta transmite mais confusão, mais movimento, pois Ricardo Reis considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, daí a junção do R com o pequeno texto dentro do círculo.
As palavras “ataraxia”, “Carpe Diem” e o verso “sem ceder aos impulsos dos instintos” estão juntos por uma simples razão: a busca da felicidade relativa é alcançada pela indiferença à perturbação, mas defende o prazer do momento, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.
A palavra “ataraxia está em grande relevo pois a simboliza a grande confusão do círculo, é de reparar que algumas letras do texto não se conseguem ver; a famosa frase em latim “Carpe Diem”, está virada ao contrário como representação do “vive o momento”, sem consequências; o tipo de letra foi escolhido devido a “marcar” o tempo de existência desta expressão.
O verso está em letras pequenas como se fosse um aviso, um recomendação/ informação que está em letras pequeninas e ninguém as lê, neste caso, com a recomendação de que a confusão e o “viver o momento” não fazem mal, mas que é preciso ter cuidado.
Os versos em cima representam o outro lado deste heterónimo, ou seja, o circulo no meio está a dividir as duas faces de Ricardo Reis.
As expressões “suaves à memória” e “pagã triste” estão em relevo, pelo simples facto de que apesar de toda a confusão, as suas ideias são lúcidas e que tem crenças.
Mais uma vez o uso da cor não está presente, mas é mais complexa do que a tipografia de Caeiro.
Álvaro de Campos
Este heterónimo teve várias fases na sua poesia. Uma das fases de Álvaro de Campos foi a do Futurismo, caracterizada pelo elogio da civilização industrial e da técnica.
A ideia do grupo foi transformar os versos em rodas e engrenagens para dar a ideia do surto industrial descrito por Campos. A espiral e os pequenos círculos em baixo representam a evolução técnica e os “R’s” dão a sensação de barulho quando a máquina esta a trabalhar.
As letras garrafais na espiral simbolizam o modernismo, a industrialização. Fazem lembrar as máquinas de escrever ou até os caracteres usados na impressão de jornais.
Em suma, as três tipografias ilustram aquilo que caracteriza os heterónimos de Fernando Pessoa, transmitindo ideias, sensações…